E a diversão continua: segurança x desafios (Parte 2)

por Jordi Castan em 12 de setembro de 2018

Em parques, praças, condomínios e escolas é comum ter playgrounds ou espaços para brincar. Playgrounds com balanços, escorregadores, gangorras e outros equipamentos que determinam e definem as brincadeiras das crianças.

Há um movimento internacional que começa a questionar o modelo desses playgrounds, se atendem a todas as normas de segurança, mas que no final das contas não têm nenhum atrativo para as crianças. Crianças cansam rápido de brinquedos que não os estimulem ou desafiem. Por isso, há um dilema entre a segurança e a neutralização dos riscos dos brinquedos normatizados, arredondados, emborrachados e seguros e o dia a dia das crianças que trepam em árvores, pulam de alturas cada vez maiores e buscam viver aventuras e superar desafios.

Como exemplo, na foto abaixo há uma fotografia que tomei no playground de uma escola em Freiburg na Alemanha. Tenho certeza que quem projetou o balanço não previu que um menino de 8 ou 9 anos o utilizaria daquela maneira.

Temos que aceitar que as crianças não gostam de brincar nos playgrounds atuais, aliás parece que ninguém lembra mais que os brinquedos são projetados para que crianças brinquem neles. O ideal seria que não quisessem sair deles, mas o que vemos hoje são brinquedos que na maior parte do tempo estão vazios e crianças inventando outras brincadeiras ou usando-os de forma bem diferente de como tinham sido projetados.

Há espaço para brinquedos mais desafiadores. Crianças maiores querem e precisam correr riscos maiores, vencer desafios é parte do processo de crescimento e desenvolvimento. Estamos vivendo uma época em que o medo e a preocupação com a segurança das crianças é grande, tornando os brinquedos e brincadeiras cada vez mais monótonos e sem graça. O mercado e as normas técnicas têm estimulado o desenho de brinquedos padrão de plástico com balanços, gangorras e escorregadores que reduziram completamente o risco, mas que não atraem a criançada.

Afortunadamente há um movimento que estimula os espaços de aventura, aqueles que apresentam desafios adequados a idade das crianças. Playgrounds feitos com pneus, cordas, tabuas, blocos de concreto. Em alguns casos as crianças podem usar martelos, pregos e até fogo, de forma segura e controlada.

É uma lufada de ar fresco, no meio de toda esta monotonia ver que arquitetos, pesquisadores, paisagistas, pedagogos e especialistas em desenvolvimento de crianças estão considerando a importância do risco para estimular a criatividade, a independência e a capacidade para resolver problemas e tomar decisões. Estes novos espaços de jogo de aventura são só o inicio de um processo que busca questionar o modelo de parques e espaços de lazer e como o desenho urbano deve ir além da visão e do modelo super protetor que estabelecemos como padrão hoje.